segunda-feira, 21 de maio de 2012

Um azulejo branco para o azulejo branco

Tem coisas que precisam ser ditas, eu não consigo fingir que nada aconteceu e continuar, preciso remoer e tirar de mim até realmente não mais importar.
Ontem, mesmo relaxando, aquecendo, fazendo o trivial tão necessário de ser ator, eu não consegui cuidar da minha mente. Busquei arrancar ou até aproveitar certos problemas, que parecem me perseguir, para a cena. Em cena, tudo o que eu queria era um azulejo branco e, por vezes, não apresentar um. Eu também precisava do meu, e estava tão precisado.
Ontem eu lutei. Ninguém tem a ver com minha vida pessoal, mas eu lutei da forma mais cruel como eu encaro: "ninguém se importa". Eu precisava fazer o meu trabalho e, para isso, eu tive que lutar, e o fiz. Eu sinto no meu corpo a luta interna que ocorreu, sinto como se tivesse feito academia por uma semana inteira em apenas quarenta minutos. Os músculos de minha mente não aguentavam mais e eu forcei cada vez mais a concentração. Eu me senti um incompetente, incapaz perante tantos erros que busquei aproveitá-los, já não os conseguia mais escondê-los. Em cena, até pensei que seria um erro esconder o erro.
"O teatro não admite erros, e hoje eu fiz o inadmissível", pensei na minha dor de cabeça após a apresentação, pensei até em desistir, em apostar mais na minha faculdade de Design de Moda.
Maio é meu inferno astral, não tenho dúvidas, ano passado ocorreu o mesmo mas depois de uma semana, eu não consegui não tentar fazer teatro.
Ontem (novamente "Ontem", como giros em minha memória) eu lutei, e sei que muitas pessoas (talvez ninguém, a não ser meu próprio grupo) não perceberam isso, talvez perceberam erros técnicos ou motivos para comentários hoje. Me gastei até a última gota que, quando acabou, não consegui falar mais nada, esqueci de agradecer ao Henrique, que foi um produtor tão atencioso, ao grupo e a todos ali. Me matei após a luta por não ter conseguido agradecer como era necessário agradecer.
"Não era pra você ter feito isso", eu vou escutar por ter escrito isso. Eu não conseguiria não falar o dito acima, talvez me traria um câncer na garganta ou um engodo no peito. Eu precisei.
Fazer teatro não é fácil, mas a vida também não é, então por quê fazer teatro seria?

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

"azulejo branco" na 5º Primavera de Museus


Organizada pelo IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus), a 5º Primavera de Museus tem como tema: "Mulheres, Museus e Memórias", abordando o universo do gênero, fortemente vinculado à pesquisa do "azulejo branco", que será apresentado dentro da programação no espaço do Sobrado Dr. José Lourenço dentro de uma instalação proposta pelo grupo! Venha conferir dia 24 (sábado) às 14h. Para mais informações clique aqui

SERVIÇO
Espetáculo "azulejo branco" seguido de roda de conversa
Dia 24 (sábado)
às 14h
Sobrado Dr. José Lourenço
(Rua Major Facundo, 154, Centro)
Entrada franca

domingo, 31 de julho de 2011

Look closer...

As fases da vida não acompanham a cronologia. Posso dizer agora com convicção que estou no auge da adolescência, a cada dia penso que me encontro com profundo medo antecipado de me destruir no seguinte minuto, e é isso o que vem acontecendo. Filmes como “American Beauty” me fazem respirar um pouco, rápidas respirações de meios pulmões preenchidos.

Domingo, Sol, pânico de domingo e sol, me deixo aberto nesse último dia de férias antes da tão esperada rotina que me deixa longe de meu lírico para ir de encontro com referências exteriores que possam vir me preencher do vazio. Vazio pessoal, espiritual etc. Tudo não passa de uma fuga para o encontro. Enfim, domingo e derivados com a abertura para o vazio me faz sentir vontade de rever o tal filme. Já o havia visto há uns três anos, esse que já estava manjado pelos super cine globais, o também filme ganhador de diversos Oscar do ano 2000, o, novamente, também (talvez) mais brilhante filme que já vi. Sutil, ácido, aberto a interpretações, arte pura que te deixa a degustar, desgustar e reticências por anos e que suas reflexões nunca passam. É um filme que deve entrar numa rotina para cada indivíduo, para ser revisto a cada, no mínimo, seis meses (ciclos).

Personagens cotidianos e aprofundados que se cruzam, diferentes personalidades que se chocam e muita vida pulsante bem costurada com leveza e poesia.

Um personagem em especial me re-chamou atenção: Ricky Fitts, interpretado pelo ator Wes Bentley (geralmente cotado para interpretar psicopatas, penso que pela sua forte imagem em silêncios dramáticos no video). Gostaria de aprender a viver como Ricky Fitts, de entender da onde sai sua base essencial que sustenta tanta leveza sem deixá-lo sucumbir. No filme, Ricky é um jovem de dezoito anos que observa o mundo com olhos maduros de sensibilidade, apesar da dor que envolve sua fugacidade humana, ele consegue ter auto-estima e confiança, ele conseguiu seu eixo e com esse explora realidades de infinitas dimensões sensíveis. Dentro do filme, onde todos os outros personagens têm válvulas de escape para respirarem no grande mar, ele consegue reconhecer tudo com normalidade que dispensa arrogância. Acho que estou apaixonado por ele com seus grandes olhos que dissecam tudo com entendimento e paciência, olhos que não julgam, que vêem beleza, mas tanta beleza que ele reconhece poder sumcumbir com a dimensão bela do mundo.

‘American Beauty’ fala da vida, é um filme que, apesar de você conseguir fechar gestalts sobre seu roteiro, desafio alguém conseguir definir com exatidão sua dimensão sensível. Generalizá-lo é banalizar a arte, logo, a vida.




quinta-feira, 9 de junho de 2011

Meu refúgio em 'Orlando', de Mrs. Woolf.

"Depois, subitamente Orlando caía numa das suas expressões melancólicas; o espetáculo da velhinha coxeando pelo gêlo podia ser a causa disso, ou não haver causa nenhuma; atirava-se de rosto para baixo no gêlo, e ficava olhando para dentro das águas geladas e pensando na morte. Pois tem razão o filósofo ao dizer que entre a felicidade e a melancolia não medeia espessura maior que a de uma lâmina de faca; e prossegue opinando serem irmãs gêmeas; e daí conclui que todos os extremos de sentimentos são aparentados com a loucura, e convida-nos a buscar refúgio na verdadeira Igreja (a seu ver a Anabastista), único pôrto, baía, ancoradouro, etc., dizia, para os que se agitam nesse mar." p. 217 de Orlando, Virginia Woolf. Edição Abril 1972.

Comparo esse trecho de Orlando ao azulejo quanto a visão de vida-morte, o que justifica transições tão bruscamente opostas na interpretação, e a ideia de que 'a salvação' para toda essa 'angústia oposta' está na fé/igreja.

Lindo Orlando. Linda Virginia. Me deito nas relvas descritas como refúgio pra tanta fumaça que rasga.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Começo

Sempre adiei a criação desse blog de acompanhamento do trabalho.
Vivendo, onde melhor ensaio a obra, observo coisas e sinto a necessidade de listá-las para a organização de algo futuro que me ajude a situar alguns traços do azulejo.
Enfim, crio hoje o blog e o deixarei aberto a qualquer inspiração, nova ou revisitada, para postar aqui, tecer comentários etc.
Graças à Deus o azulejo é uma obra permanentemente aberta, e quanto mais vivo mais tenho propriedade desse bebê que nutro com carinho, pois ele fala muito pelo que quero dizer com meus estudos de arte.
Não só espero como sei que isso aqui será útil.
Saudações para quem quiser compartilhar minha pesquisa.